Breve historia da linha férrea da Petite Ceinture de Paris
- Nascimento durante o Secundo Império (1852-1869)
- 1854-1862 : criação do serviço urbano de passageiros
- 1867-1903 : desenvolvimento do transporte de (...)
- 1867-1895 : debate sobre o projeto de caminho-de-ferro (...)
- 1903 -1934 : O declínio do serviço circular de (...)
- Depois de 1934 : Continuação da actividade ferroviária
Redação : Bruno Bretelle.
Tradução em Português : João Cunha, Stéphane Dos Santos e Bruno Bretelle.
Nascimento durante o Secundo Império (1852-1869)
Na primeira metade do século XIX, a rede ferroviária francesa é construída em estrela à volta de Paris, capital do país, com o objetivo de a ligar diretamente às maiores cidades francesas. Em 1850, no entanto, ainda continuava a faltar uma linha circular no perímetro da cidade, para ligar todas estas radiais e permitir o desenvolvimento do transporte ferroviário de mercadorias. O governo de Napoleão III, alguns dias após a criação do Segundo Império, decide corrigir esta lacuna com a construção da Petite Ceinture Rive Droite (Pequena Cintura Margem Direita). Esta linha fica nas zonas Norte e Este de Paris, ao longo do perímetro da cidade.
- A Petite Ceinture no ano 1921
- A Petite Ceinture é figurada pela linha em negrito (clique para ampliar).
Esta linha atravessa terrenos pertencentes a Paris desde 1860. Num ápice, estações de mercadorias e ramais de mercadorias são construídos ao longo da linha, para melhorar o aprovisionamento de Paris. A linha é explorada por um sindicato de companhias privadas de caminho-de-ferro que possuam pelo menos uma estação terminal em Paris.
1854-1862 : criação do serviço urbano de passageiros
Aproveitando o desinteresse que se seguiu à entrada em serviço da linha da Margem Direita, para a construção de uma linha na zona Oeste de Paris destinada ao transporte de mercadorias, a companhia do Oeste coloca em serviço em 1854 uma linha ligando a estação de Saint Lazare e a Porte d’Auteuil, dedicada ao transporte de passageiros – a linha d’Auteuil. Esta linha serve o Bosque de Boulogne e os bairros residenciais em instalação. Com a anexação em 1860 dos terrenos que a linha atravessa, a linha d’Auteuil é a primeira linha ferroviária urbana de Paris. Ela é seguida em 1862, dia 14 de julho, feriado nacional, pela Petite Ceinture Rive Droite, onde comboios de passageiros são colocados em serviço após pressão dos responsáveis políticos.
1867-1903 : desenvolvimento do transporte de passageiros graça as Exposições Universais
De 1867 a 1900, os serviços de passageiros da Petite Ceinture e da linha d’Auteuil desenvolvem-se à medida das Exposições Universais organizadas em Paris a cada 11 anos : 1867, 1878, 1889 e 1900. Para cada exposição, novas estações são construídas e o número de comboios é aumentado. Assim progressivamente os comboios da Petite Ceinture e da linha d’Auteuil se tornam verdadeiros transportes públicos.
Para a Exposição Universal de 1867, a Petite Ceinture Rive Droite é ligada à linha d’Auteuil por uma nova linha que passa pelos bairros do Sul de Paris : a Petite Ceinture Rive Gauche (Margem Esquerda). Graças a esta nova linha, os primeiros comboios circulares são postos em serviço entre a estação de Saint Lazare e a estação da Avenida de Clichy. Estes comboios efetuam a volta de Paris percorrendo a linha d’Auteuil, a Petite Ceinture Rive Gauche e a Petite Ceinture Rive Droite. Na linha d’Auteuil, os combios circulares coexistem com os comboios desta linha. Um ramal construído ao longo do rio Sena e partindo da Petite Ceinture permite a estes comboios servir a Exposição Universal localizada no Champ de Mars. Em 1869, alguns meses antes da queda do Segundo Império, um novo troço fecha o círculo entre as estações Avenue de Clichy e Courcelles-levallois. Agora, os comboios circulares percorrem a volta completa de Paris.
Para a Exposição Universal de 1878 são construídas novas estações e o número de comboios é aumentado mais uma vez, tornando-se definitivo o ramal ao serviço da estação do Champs de Mars.
Para a Exposição Universal de 1889, que é marcada pela inauguração da Torre Eiffel, são suprimidas as últimas passagens de nível na Petite Ceinture Rive Droite, ao mesmo tempo que é mantida a circulação ferroviária. Por esta altura, várias estações são reconstruídas e o tráfego aumenta novamente.
Por fim, na Exposição Universal de 1900 dá-se o apogeu do tráfego de passageiros da Petite Ceinture : 39 milhões de passageiros transportados – mais de 100.000 por dia, em média. Até 12 comboios por hora e sentido são colocados em circulação, com tempos de passagem entre os 5 e os 10 minutos. Em tempo normal, até 8 comboios por hora e sentido circulam, maximo autorisado devido ao trafico propio da linha d’Auteuil.
A volta completa de Paris realize-se com 29 estaçãoes : 6 na linha d’Auteuil e 23 na Petite Ceinture. Os tempos de percurso são de 1h30 e de 1h21. Em 1903, o tempo de viagem é reduzido nas horas mortas para 1h10, o seja uma velocidade de 27 km/h, equivalente a velocidade de uma linha do metro contemporânea.
1867-1895 : debate sobre o projeto de caminho-de-ferro metropolitano
Após a abertura à exploração da Petite Ceinture Rive Gauche em 1867 e da primeira estação elevada de Paris – a estação Point du Jour – o serviço circular da Petite Ceinture é considerado como a primeira etapa para a construção de uma rede de linhas de caminho-de-ferro metropolitano.
As companhias privadas que se associaram para explorar a Petite Ceinture acabam por desenvolver o tráfego de passageiros na esperança de lhes ser atribuída a concessão do futuro Metro. No entanto, a cidade de Paris exerce forte oposição aos projetos, com a motivação fundamental de guardar para si o controlo do futuro Metro, cujas instalações vão ocupar terrenos municipais. Finalmente, em 1895, depois de três décadas de debates inconclusivos e com a aproximação da Exposição Universal de 1900, o governo francês cede às pretensões da câmara de Paris, autorizando o estabelecimento do Metro e concedendo às autoridades municipais a escolha do modo de exploração. A primeira linha de Metro entra em serviço em 1900. No início do século XX, os habitantes de Paris e dos seus subúrbios possuem assim dois serviços metropolitanos distintos : a Petite Ceinture e o Metro.
1903 -1934 : O declínio do serviço circular de passageiros
Nesta altura, os diferentes modos de transporte são explorados por companhias diferentes e não há qualquer sinal de coordenação tarifária como nos dias de hoje. Deste modo, tornam-se em concorrentes muito mais do que em companhias complementares. A partir do início do século XX, o serviço metropolitano da Petite Ceinture conhece a concorrência do metro e de novas linhas de carros elétricos, uma concorrência crescente à medida do desenvolvimento destes transportes. Apesarrda reorganização dos serviços e do aumento da velocidade comercial, a Petite Ceinture vê o seu tráfego de passageiros afundar no espaço de uma década. A modernidade do Metro, cujos serviços são assegurados por automotoras elétricas, contrastam com as condições de circulação herdadas do século XIX da Petite Ceinture.
A concorrência não é, no entanto, a única razão do declínio da Petite Ceinture. Esta última sofre também as consequências da ambiguidade da sua missão: assegurar simultaneamente transporte de passageiros e de mercadorias. A presença de importantes tráfegos de mercadorias impede de intensificar o serviço de passageiros utilizando a tração elétrica, estudada após a Exposição Universal de 1900. O tráfego de mercadorias, aliás, enfrenta um crescimento ininterrupto ao contrário do declínio dos serviços de passageiros.
Finalmente, em 1934 e após cerca de 70 anos de existência, o serviço de passageiros é transferido para um serviço de autocarros, da linha P.C. (iniciais da Petite Ceinture). Já o serviço de mercadorias continua a prosperar até à década de 70, onde começará o seu longo declínio, até acabar em 1993. Do lado Oeste, a linha d’Auteuil é eletrificada nos anos 20 para um tráfego de passageiros que permanece até 1985, data da integração da mesma na linha C do RER.
Depois de 1934 : Continuação da actividade ferroviária
A suspensão do serviço de passageiros em 1934 não marca o final das circulações na linha.
Trens de mercadorias
Comboios dos chefes de estados
Entre 1900 até os anos 50, a estação da “avenue du Bois de Boulogne” recebe chefes de Estado estrangeiro em visita em Paris. A visita mais impressionante é do casal real britânico em julho de 1938. Esta estação é sobrenomeada “estação dos soberanos”.
Serviços ferroviários internacionais
Até o fim da década 80, a Petite Ceinture é atravessada por míticos comboios europeus como o “Train Bleu” (Londres - Calais - Paris - Nice). A Petite Ceinture inspira um dos romances de Agatha Christie onde um crime é realizado durante um viajem sobre a Petite Ceinture.
Comboios de descoberta
De 1965 até novembro de 2003, a Petite Ceinture conhece uma actividade de comboios turísticos organizados com o apoio da SNCF. A nossa associação organizou vários deles entre 1999 e 2003.
Varios trens
Em 1996, um troço no 13º Bairro, situado ao pé da Porta d’Italie acolhe uma composição automática do metro, para a linha 14, para ensaios e afinações dos automatismos de condução.
Enfim, um comboio com varias caruagens Corail circule no dia 18 de janeiro de 2012 na Petite Ceinture Rive Gauche.